Novas Tecnologias

Com uso de sistema informatizado para adubação, café capixaba passa por revolução em 20 anos

Investimentos em irrigação, manejo e variedades mais produtivas e resistentes fizeram a produtividade saltar de 15 sacas para até 80 sacas por hectare. Ou seja, os produtores conseguiram aumentar a produção em mais de cinco vezes sem precisar expandir a área plantada – que hoje gira em torno de 400 mil hectares.

Na semana em que foi comemorado o Dia Nacional do Café (24 de maio), a coluna Agronegócio de A GAZETA percorreu o interior Norte do Estado em busca da histórias de produtores que fazem do Espírito Santo um dos maiores e mais desenvolvidos polos de cafeicultura no mundo. A viagem, a convite da Nestlé e na companhia de técnicos da multinacional, foi voltada a conhecer casos que exemplificam a revolução vivida pelo segmento nas últimas décadas.

Qualidade

O desenvolvimento da cafeicultura não está expresso apenas na quantidade de sacas, mas também na melhora da qualidade dos grãos. Somente a Nestlé chega a comprar, por ano, 1 milhão de sacas de café capixaba. De olho na qualidade do produto que chega ao consumidor, a multinacional criou, em 2010, o NESCAFÉ Plan, um projeto global para garantir a produção sustentável do café verde.

O programa oferece capacitação, treinamento e acompanhamento técnico aos produtores, com o objetivo de implementar o 4C: um código universal que estabelece princípios como liberdade de associação para trabalhadores, condições de trabalho adequadas, minimização da utilização de agrotóxicos, gerenciamento de recursos hídricos, monitoramento da qualidade do café e implementação de mecanismos de rastreabilidade. No Estado, o programa beneficia hoje milhares de produtores e dezenas de municípios como Águia Branca, Jaguaré e Rio Bananal.

Neste último município, o casal de produtores Fátima Pagotto, 52 anos, e Vitor Capelini, 54, aderiram ao 4C e hoje vendem o produto a um preço melhor do que o valor pago pelo mercado convencional. De base familiar, o casal representa bem o perfil das 131 mil famílias capixabas que produzem café. Trabalham em 8,5 hectares de terra, onde cultivam café e pimenta.

Segundo dados do Incaper, o Espírito Santo já produziu 13 milhões de sacas de café. A maior produção de conilon foi de cerca de 10 milhões de sacas, em 2014. Na avaliação do secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a revolução na cafeicultura não tem um único dono. “O sucesso da nossa cafeicultura é resultado desse arranjo institucional, que envolve banco participando com crédito, cooperativas favorecendo as parcerias, além das pesquisas e da assistência do Incaper. É um conjunto de atores dando contribuição, seja na pesquisa, na extensão rural ou no mercado”, pontua.

Hoje, o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por entre 75% e 78% da produção nacional. Produz ainda até 20% do café robusta do mundo. De acordo com o Incaper, o setor gera aproximadamente 400 mil empregos diretos e indiretos e está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado. Uma das principais revoluções, na cafeicultura, foi a chegada das primeiras variedades clonais de café conilon em 1993. Atualmente, existem mais de 200 jardins em 53 municípios capixabas – que possuem potencial para a produção de mais de 50 milhões de mudas por ano. Um deles é o Viveiro Sempre Verde, de Jaguaré. De lá saem 1 milhão de mudas por ano. “A gente faz cada muda com muito carinho pensando no resultado que ela vai dar para o produtor”, revela o gerente da unidade, Clésio Domingos, 38 anos.

Micro e pequenas propriedades também investem pesado

Com a produção anual que chega a 120 mil sacas e uma média de 300 funcionários em época de colheita, a família Orletti é um caso representativo da utilização da alta tecnologia na produção de conilon. Depois de investir por décadas no aumento da produtividade, a família hoje aposta na qualidade do produto para lucrar. A tecnologia de ponta está nas etapas de plantio, manejo e colheita, e também no processo de pilagem, secagem e estocagem dos grãos. Desde quando é colhido, o café passa por modernas máquinas até chegar ao produto final. Todo o processo é feito por máquinas, a começar pela colheita semi-mecanizada, onde os galhos com os frutos são colocados em uma esteira para, em seguida, ser feita a separação dos grãos.

A propriedade é tocada pelos irmãos Adauto Orletti, de 63 anos, e Jovino Carlos Orletti, 71 anos, que já estão passando o comando para a nova geração. “A seca tem prejudicado muito a gente, mas mantemos as lavouras de pé para não ficar sem produção. Se parar, o prejuízo é maior”, lamentou Adauto. O investimento em tecnologia também é utilizado para driblar a crise hídrica. A propriedade está em fase de troca do processo de irrigação por pivô central para o “gotejamento enterrado”, uma tecnologia importada de Israel. Para fazer essa mudança, a previsão de investimento é entre R$ 10 mil e 12 mil por hectare. Enquanto a chuva não vem, uma das estratégias é produzir mamão e café na mesma área. Além de gerar economia de água, a sombra do mamoeiro beneficia o pés do grão.

Na propriedade vizinha dos Orletti, o produtor Affonso Everaldo Dalvi, de 39 anos, tem conseguido boas colheitas mesmo em tempos de seca. Ele conseguiu o feito depois de investir em sistemas eficientes de irrigação e manejo da planta e do solo. Affonso comanda sua própria lavoura, de sete hectares, mesmo sem o movimento dos membros superiores e inferiores. O acidente que o fez perder os movimentos aconteceu há quatro anos e oito meses, quando sua lavoura estava tinha oito meses. “Foi uma queda do galpão. Fui aparar as pontas de eucalipto, e o último varão que eu fui cortar, não sei o que aconteceu, uma pequena vertigem, como o médico chama, tive um desmaio e acabei caindo”, relembrou, com os olhos marejados.

Saiba mais

Variedades

As primeiras variedades clonais de café conilon para o Estado foram lançadas em 1993. Atualmente, existem mais de 200 jardins em 53 municípios capixabas – que possuem potencial para a produção de mais de 50 milhões de mudas por ano. Muito mais produtivas e resistentes, as variedades clonais são utilizada por quase 100% dos produtores.

Poda programada

O Incaper pesquisou o manejo mais adequado do conilon e aprimorou a tecnologia de poda. Conseguiu uma redução média de 32% de mão de obra no período de 10 colheitas; melhoria no manejo de pragas e doenças; aumento superior a 20% na produtividade média da lavoura; melhor qualidade final do produto, entre outros benefícios.

Controle biológico

O café conilon é cultivado nas regiões de baixas altitudes e temperatura média anual mais elevada, o que proporciona condições favoráveis ao desenvolvimento da broca-do-café. Uma alternativa apresentada é o método de controle biológico, que consiste na utilização de duas espécies de pequenas vespas, que se alimentam da broca.

Plantio em linha

O plantio em linha é uma tecnologia de fundamental importância para o cultivo das variedades clonais. Promove a melhoria da produtividade e da qualidade da produção, facilita o manejo da lavoura e colheita, levando ainda a uma redução da incidência de doenças.

Espaçamento

O espaçamento e a densidade de plantio adequados mantêm um microclima que limita a proliferação de doenças e pragas.

Manejo e conservação do solo

O manejo do mato por meios mecânico e químico contribuem para o controle da erosão, enriquecem e ajudam a manter a umidade do solo. O manejo da vegetação natural nas “ruas” do cafeeiro reduz 60% e 80% as perdas de água e solo, respectivamente.

Adubação

O sistema informatizado de recomendação do Incaper, por exemplo, é utilizado pelos técnicos para aumentar a precisão das recomendações, facilitando a interpretação da análise do solo e dando agilidade aos cálculos das dosagens de corretivos e fertilizantes.

Irrigação

As tecnologias de irrigação, implantadas em larga escala no Estado, foram fundamentais no aumento da produção. Atualmente, vários métodos possibilitam grande eficiência hídrica.

 

Portal do agronegócio, 23/06/2017

 

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo