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Dólar alivia crise para o campo, mas eleva custos-FGV

Os preços internacionais das commodities agrícolas poderão sofrer mais no próximo ano após queda recente se a crise global permanecer sem solução, mas muito provavelmente a taxa de câmbio no Brasil deve ajudar a amenizar eventuais perdas para os produtores brasileiros, disse um especialista sênior do setor.
Nos momentos de nervosismo pela crise, os futuros das commodities têm de forma geral caído, ao mesmo tempo em que o dólar sobe, o que tende a garantir um preço sustentado em reais pela conversão da cotação no exterior para a moeda brasileira.
Por outro lado, muitos insumos agrícolas são importados, cotados em dólar – e por isso ficam mais caros nesse cenário -, o que deve colaborar para apertar a rentabilidade do setor em 2012. A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas.
“Quando a crise se acentua e os bens perdem valor, o capital especulativo e mesmo o investimento que não quer ser produtivo, vai para o dólar”, disse Rodrigues em entrevista à Reuters, após ter chefiado na semana passada uma missão da FGV a Paris, para a apresentação na OCDE de estudos da instituição sobre o agronegócio brasileiro.
O ex-ministro ressalvou que é difícil fazer previsões sobre um eventual agravamento da crise, mas lembrou que essa compensação parcial pelo câmbio na formação de preços em real já está ocorrendo, após as commodities negociadas em Chicago terem recuado das máximas do ano.
A soja, por exemplo, atingiu máximas de cerca de 14,50 dólares por bushel em Chicago em 2011, e atualmente está em torno de 11,30 dólares, queda de mais de 20 por cento, enquanto o dólar se valorizou mais de 16 por cento ante as mínimas contra o real neste ano.
De qualquer forma, embora o câmbio compense em parte a formação de preços, ele não ajudará a evitar uma perda de rentabilidade em 2012, já que os fertilizantes (principal insumo agrícola) são importados em sua maioria e cotados em dólar.
“O que pode complicar não é a renda bruta, é a renda líquida. Se os preços (das commodities) caírem mais ainda em dólar, podemos ter problemas mais sérios, porque compramos insumos também em dólares”, acrescentou Rodrigues, observando que a rentabilidade do campo no Brasil tende a ficar um pouco mais apertada, após dois anos de bons ganhos.
O Brasil importou entre janeiro e outubro volume equivalente a 70 por cento do total de fertilizantes consumidos no país no mesmo período.

FUNDAMENTOS PERSISTEM
Rodrigues avalia que os fundamentos dos mercados agrícolas continuam fortes, com a demanda crescente dos consumidores de países em desenvolvimento.
E avaliou que um eventual novo mergulho dos preços das commodities se daria somente se os países desenvolvidos não encontrarem uma solução para a crise.
“Os fundamentos persistem, isso não mudou, e a crise europeia, nos EUA, não afeta profundamente os fundamentos, a demanda dos alimentos explodiu nos emergentes, onde a crise não afeta ainda. Se a crise se aprofundar… e for mais demorada a solução, isso terá reflexo também nos países em desenvolvimento e a demanda começa a cair”, explicou.
Nesse caso, uma esperada volta dos fundos de investimentos para os mercados agrícolas, o que poderia trazer nova sustentação aos futuros agrícolas, não ocorreria, na medida em que os fundamentos se enfraqueceriam.
“Tudo dependerá da crise, se demorar, acaba contaminando os países emergentes, aí os fundamentos se transformam em ex-fundamentos…”, afirmou.

Reuters, 06/12/2011

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