Entrevistas

Presidente Executivo da ABRAMILHO, Alysson Paolinelli, fala sobre os desafios do mercado do milho e a expectativa sobre o uso de fertilizantes.

""Em entrevista ao GlobalFert, Alysson Paolinelli, Ex-Ministro da Agricultura e Presidente Executivo da ABRAMILHO, comentou sobre os desafios do mercado do milho e sobre a expectativa do uso de fertilizantes para a próxima safra.

1) A ABRAMILHO, Associação Brasileira dos Produtores de Milho, possui como afiliadas associações e cooperativas com foco no produtor de milho. Na sua visão quais são os principais desafios para o produtor de milho em 2018?

Antes de 1975 o desafio era muito grande, pois o produtor não era profissionalizado, ele produzia milho com uma inconstância muito grande devido à deficiência na política agrícola. Em um ano havia muito milho no mercado e o preço caia, no ano seguinte não tinha e o preço subia. Em um período o Brasil importava, em outro exportava, isso gerava uma instabilidade no sistema produtivo de milho.

A partir de 1975, o Brasil começou a ter tecnologia apropriada para o milho na região tropical, mas não houve uma ação ordenada para que fosse um produtor de milho competitivo. Isso só veio acontecer nos últimos anos com a dobradinha SOJAMILHO. Antigamente, o produtor plantava milho na primeira safra, pois precisava, e na segunda não usava, mas também plantava soja em paralelo. Depois ele descobriu que com a presença da soja o milho tinha condições de ser produzidos em segunda safra, e assim ele começou a se firmar, há aproximadamente oito anos atrás. Isso foi muito importante para a evolução da produção de milho. O agricultor brasileiro produzindo a segunda safra, não só aumentou a safra de soja, mas passou a ser praticamente o melhor produtor de soja do mundo, pois além da soja ele planta milho na próxima safra usando as regiões mais úmidas ao seu favor.

Outro ponto importante foi o mercado mundial, os países populosos estavam com pouca disponibilidade alimentos. China, Índia e África, tiveram um crescimento muito rápido e consequentemente um aumento de renda. O aumento de renda é um fato auspicioso para qualquer mercado, porque se a família aumenta 20% na renda real, ela dobra o consumo de proteína, que no final é milho e soja, 70% milho e 30% soja, o que ajudou o Brasil a se destacar como um viável exportador de milho e soja no mundo.

No ano passado os preços do milho não foram bons para os produtores. Para este ano é necessário que o governo cumpra a sua missão de segurar o preço mínimo, de dar o seguro, de ter o crédito adequado, que ele ajude o produtor. Porque uma tonelada de milho do Cornbelt até o Golfo do México para embarcar no navio, que precisa percorrer uma distância de 1.300 milhas, tem o valor de 6,12 dólares. Para nós, para ir do centro do Brasil até o porto, a tonelada tem o valor de 30 dólares. O governo precisa melhorar a infraestrutura, subsidiar o transporte, mudar a estratégia. Esses são os desafios que o brasileiro enfrenta e a Abramilho está brigando e se preparando para dar suporte.

2) Diante de um cenário de preços mais baixos de milho e clima desestimulante para o plantio do produto no Brasil. Qual é a expectativa da ABRAMILHO em relação ao uso de fertilizantes para essa cultura na próxima Safra?

Se o preço do milho reagir o produtor vai utilizar mais tecnologia para nutrir o solo.

O Brasil está brigando por tecnologia, tanto que as empresas vieram para o Brasil e nos consideram como um dos melhores mercados do mundo hoje. Além disso, existe a nossa Embrapa que é competente.

 

3) Segundo informação do IMEA há perspectiva de redução da produção de milho para a segunda safra, principalmente na região Sul, devido ao atraso na colheita de soja e ao aumento das chances de geadas e chuvas irregulares. Qual sua expectativa para a segunda safra de Milho? 

Esse ano já está confirmada a redução na produção. Isso é muito ruim para nós brasileiros e a região Sul irá sofrer mais. Nós estamos usando os mesmos recursos, a mesma terra, o mesmo maquinário, sem expandir a área e estamos conseguindo trazer mais produção, trazendo mais renda ao produtor, que poderá tratar melhor as suas atividades.

A cada safra que reduzimos a produção, estamos perdendo mercado internacional. Precisamos mudar essa história e fazer o Brasil produzir intensamente.

A região Sul enfrentou problemas com as condições climáticas, e o Rio Grande do Sul quase não terá segunda safra esse ano.

A solução para este tipo de problema é o seguro rural, um instrumento que praticamente todo o mundo utiliza, menos o Brasil. Nós não protegemos quem produz e não é questão só de proteger, é questão de mercado, hoje os países desenvolvidos estão usando o seguro para subsidiar o preço, e nós aqui não temos seguro, nem para meteorologia.

4) Qual é a sua visão de longo prazo para os preços do milho no mercado?

A tendência é subir. A área temperada, que é produtora de milho, não tem mais espaço. O Brasil é o único local que está com espaço sobrando para aumentar a produção Organizações Internacionais, como a UNU e a FAO, falam abertamente que, se o Brasil não produzir mais haverá escassez de alimentos e a expectativa deles é que o Brasil será o país que ofertará no mínimo 40% da demanda futura destes produtos alimentícios. O Brasil vai ditar os preços no futuro.

Nós temos a certeza da importância da Abramilho, pois o Brasil precisa de excelente planejamento para enfrentar esse problema. Se não fizermos isso, andaremos para trás. O produtor não vai se arriscar sem garantias ou subsídio.

Sobre a ABRAMILHO

A Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO) surgiu em 2007 de um movimento espontâneo dos produtores do grão, pela necessidade de se organizarem diante dos desafios nacionais e internacionais vivenciados pela cultura nos últimos anos. A ABRAMILHO, uma associação civil com sede em Brasília, mantém como afiliadas associações estaduais e do Distrito Federal bem como cooperativas, entidades nacionais e regionais com interesses comuns.

 

 Equipe GlobalFert, 29/05/2018

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